Entrevista realizada pelas alunas Beatriz Queirós e Daniela Dias, do 10.º E, no âmbito de um trabalho de pesquisa para a disciplina de Desenho A.
Boa tarde, professora Cristina Almeida (PCA). Eu sou a Daniela (DD) e eu sou a Beatriz (BQ), da turma 10.º E e estamos a fazer um trabalho de pesquisa no âmbito da disciplina de Desenho A, que consiste em fazer uma entrevista a um professor, que nos foi atribuído por sorteio. No nosso caso saiu o nome da professora e queremos agradecer, desde já, pela sua disponibilidade. Estamos muito curiosas de a conhecer.
BQ Aceita que esta entrevista seja gravada?
PCA É um prazer, estou à disposição.
DD Desde já queremos perguntar se depois nos pode disponibilizar uma fotografia sua para podermos publicar junto com a entrevista.
PCA Com certeza. Vou tratar disso. Farei chegar através da professora Cristina.
BQ O que a motivou a seguir um curso de Artes?
PCA Bom, isto das Artes é de facto uma coisa muito abrangente. Desde muito nova, desde que me lembro, que sempre adorei desenhar, sempre foi aquilo que mais gostei. E a parte de poder deixar a imaginação voar, expressar-me através do desenho foi sempre a minha paixão. E, por isso, esse foi desde sempre o meu caminho. É óbvio que as Artes é uma coisa muito vasta e só mais tarde é que defini concretamente o meu percurso dentro das artes. Mas desde sempre foi a área das Artes. Estava destinado! Tinha de ser.
DD Porque decidiu lecionar na área?
PCA Isso também é uma coisa muito precoce. Uma das minhas grandes dificuldades em ter de escolher coisas é o facto de, ao escolher, as escolhas que fazemos levam-nos à especialização. E como sempre gostei muito de conhecer, saber tudo sobre tudo, sempre fui muito curiosa... É algo que me estimula e ajuda a ver outras perspetivas para além da profissional! E então trabalhar com pessoas que ainda estão em formação, que ainda têm muita liberdade criativa e muita imaginação é muito estimulante. E isto do ensino é muito bom, porque tem dois lados, nós ensinamos, mas também aprendemos muito.
BQ Na altura de escolher o curso, os pais apoiaram-na? Algum familiar considerou a escolha errada, considerando a Arte uma saída sem futuro?
PCA Eu, enquanto professora do terceiro ciclo e de secundário, lido muito com essa realidade. Geralmente, quando os alunos querem seguir Artes, os pais ficam muito reticentes e têm receio pelo futuro, porque não querem que os filhos passem por necessidades, porque sabem que é uma opção com áreas que oferecem pouca estabilidade, com rendimentos muito flutuantes e incertos e é claro que o que os pais querem é um futuro garantido para os filhos. Mas curiosamente, os meus pais sempre me apoiaram, sempre me deram liberdade para seguir aquilo que queria.
DD Sempre quis ser professora de Artes Visuais ou teve outros planos?
PCA Desde o início que me via também como professora de artes. Conforme já vos disse, não foi a minha escolha principal. É uma paixão: tudo o que tenha a ver com artes gosto e desperta-me interesse. Formei-me em arquitetura, mas sempre com essa necessidade de estar ligada ao ensino, pelas razões que vos falei. De tal forma que, pouco após terminar o curso, ingressei na faculdade como assistente estagiária e comecei a lecionar. Nunca conheci outra realidade.
BQ Qual foi a formação, no ensino superior, que optou seguir? Pintura? Escultura? Design? Arquitetura? Outra?
PCA Arquitetura, como já tinha referido.
DD Durante a sua vida de estudante teve alguma viagem com a escola relacionada com artes que a marcou? Se sim qual?
PCA Sim, chegamos a fazer várias viagens e visitas de estudo. E, obviamente, fomos a Itália, o que não podia deixar de ser para um estudante de Arquitetura. Também fomos a Espanha. Todas elas foram marcantes. Chegamos mesmo a visitar as obras de infraestruturação e de edificação do que viria a ser a Expo'98, em Lisboa. Todas foram especiais, mas essa foi a mais marcante. Porque fomos enquanto estudantes e a expo ainda estava a ser construída. Foi interessante ver um projeto daquela magnitude ainda em construção.
BQ Qual é a sensação de ver a evolução de um aluno?
PCA Sinto-me feliz, é uma realização pessoal. É muito, muito bom, dá muito prazer! Sobretudo de alunos com menos aptidão, mais do que de um aluno que me chegue com capacidade inata. Vê-los crescer com dificuldades, conseguir ultrapassá-las e vê-los ganhar asas, é fantástico...
DD Tem algum(uns/umas) aluno(os/as) que seja motivo de orgulho para a professora por ter tido um percurso brilhante após a escola?
PCA Sim, tenho muitos alunos cujo percurso após a escola é recheado de sucessos, o que é muito bom.
BQ Tendo em conta todas as suas experiências com os alunos, sente que é admirada por eles?
PCA Admirada não sei. Amizade, sim. Eles dizem que sou muito exigente, enquanto professora, mas tenho uma boa relação com os meus alunos, estou sempre disponível tanto nas aulas como em intervalos. Mas é difícil manter essa ligação, porque por norma só tenho as turmas durante um ano.
DD Que artista a inspirou mais ao longo da sua vida?
PCA Tenho muitas referências, enquanto artistas plásticos. Mas na minha área destaco o Arquiteto Alvar Aalto e também Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura, tendo a sorte de, ainda enquanto estudante, ter assistido a "aulas" e palestras dadas por eles.
DD Qual a técnica de trabalho que gosta mais de usar para se expressar?
PCA Como vos disse a minha formação é em arquitetura. E por isso eu gosto muito de trabalhar com caneta. Também gosto de pintar a óleo, manusear a grafite, gosto muito da aguarela...
BQ Qual o trabalho que realizou de que mais se orgulha?
PCA Todos os projetos em que tive oportunidade de participar deixara-me, obviamente, preenchida. Mas destaco um, que tive a oportunidade de fazer sozinha, ainda enquanto estudante de arquitetura, e que por isso foi especial. Tratou-se de um projeto para um restaurante, de raiz mesmo. O facto de me terem confiado um projeto de raiz, enquanto aluna, foi muito bom.
DD Tem alguma fonte de inspiração próxima? Qual?
PCA Não, eu acho que tudo é fonte de inspiração! Nós, os artistas, somos mais sensíveis, porque tudo é fonte de inspiração.
BQ Em algum momento sentiu que tivesse feito a escolha errada em vir para artes?
PCA Não, nunca. Se eu pudesse ter sete vidas para fazer tudo o que gostava de fazer era excelente, e sempre tudo ligado às artes.
DD Orgulha-se do seu percurso?
PCA Sim, claro que sim. Dou sempre o meu melhor e quando fazemos isso só nos podemos orgulhar!
BQ Há alguma coisa que não tenhamos questionado e que gostaria de dizer?
PCA Não, mas parece-me que não estavam à espera que a minha área de formação fosse arquitetura. E posso dizer que gostei muito da vossa entrevista e de ser entrevistada por vós, de vos conhecer. Gostava de desejar muita sorte para o vosso percurso, e de dizer para acreditarem sempre, porque chegam lá. Apenas queria perguntar o que gostariam de seguir no curso das artes.
BQ e DD Arquitetura!
PCA Fico muito contente e espero um dia ver uns projetos feitos por vós, por aí, na nossa cidade.
DD Muito obrigada pela disponibilidade em nos receber. Gostamos muito de a conhecer. Queremos dizer que a entrevista será publicada no Blogartes, durante a Semana das Artes
Sempre uma querida...Beijiho Cristininha e adorei ler-te, sra Arquiteta!
ResponderEliminarMuito bem Cristina, sempre a conhecer-te melhor!!!
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