terça-feira, 23 de junho de 2020

O que o professor José Alberto Matos tem para nos dizer



10.ºE Desenho Ana Sousa e José Veiga
Ana Sousa (AS) Boa tarde professor José Alberto Matos (PJAM). Nós somos os alunos Ana Sousa e José Veiga (JV) do 10.ºE e estamos aqui para realizar uma entrevista no âmbito da disciplina de Desenho A, a respeito da sua pessoa enquanto professor. Antes de começarmos a entrevista gostaríamos de agradecer pelo facto de se disponibilizar para estar connosco.

(JV) Então, em que momento da sua vida é que percebeu que queria ser professor?
(PJAM) Estava no segundo ou terceiro ano de estudos nas Belas Artes quando decidi concorrer para dar aulas de substituição, entusiasmado por uma pessoa amiga, como uma forma de me sustentar e subsidiar o curso. Chamaram-me em dezembro e o primeiro ano foi complicado; foi uma adaptação “a bruto”, sem qualquer preparação, mas depois comecei a entusiasmar-me e a gostar. À medida que os anos foram passando decidi que esta seria a minha profissão.

(AS) Para além de Geometria Descritiva, que outras disciplinas já lecionou?
(PJAM) Já lecionei muitas disciplinas: Educação Visual, Desenho, Oficina de Artes, Teoria de Design, História da Cultura e das Artes, M.T.E.P. Em cursos profissionais ou Técnico Profissionais, fui durante dez anos Diretor do Curso Profissional de Animação Sociocultural e de Técnico de Vitrinismo, na Escola Secundária de Ermesinde e aí lecionei as disciplinas de Área de Expressões, Animação Sociocultural e Design e Tecnologias da Comunicação.

(JV) Alguma vez pensou em ter outra profissão dentro da área das Artes, alguma que não fosse professor?
(PJAM) Como quase todos os que frequentamos as Belas Artes, temos como sonho inicial ser artistas, no meu caso, ser Pintor. Também cheguei a ter interesse pelo Design e essencialmente pela Arquitetura. Depois de fazer o curso de Pintura, mantive a expectativa de voltar à Faculdade e fazer o curso de Arquitetura pois é algo que me fascina imenso, mas a família e a escola depois absorvem tudo.

(AS) Tem ideia de quantos monumentos ou museus já visitou desde que é professor?
(PJAM) Já antes de ser professor tinha visitado muitos, inclusive no estrangeiro, mas não faço ideia, já foram muitos mesmo. Sempre que vou a algum lado e tenho a oportunidade de visitar museus, monumentos, inclusive uma exposição de arte, faço-o.

(JV) Diga-me, qual é a sensação de ver um aluno seu a evoluir?
(PJAM) É a melhor sensação que, pelo menos eu enquanto professor, posso ter. É uma grande satisfação, principalmente quando temos alunos que em exame obtêm nota máxima, significa que não andamos a falar em vão. 

(AS) Já alguma vez realizou um projeto do qual se orgulha?
(PJAM) Alguns.
(AS) Gostaria de falar sobre eles?
(PJAM) Quando vim aqui para a escola de Águas Santas e comecei a lecionar Geometria Descritiva, havia poucos alunos, eram só os de Artes. Depois começaram a surgir mais alunos interessados de Ciências e Tecnologias. Não sendo um projeto visível, tornou-se muito importante a nível educativo, pois consegui transmitir aos alunos que a Geometria Descritiva não é uma disciplina difícil e se pode tornar muito interessante e divertida. No curso profissional de Animador Sociocultural fazíamos muitas atividades para crianças e idosos com a Câmara, com a Junta de Freguesia, nas escolas. Foi muito gratificante ver como jovens se interessavam e gostavam de participar em atividades de animação, fazendo malabarismo, participando em jogos, criando formas com balões entre outras. Todos estes anos que trabalhei com diretor do curso profissional, foram um grande desafio, mas também uma grande satisfação que considero um projeto muito importante. Indo ainda mais para trás, não posso deixar de referir os sete anos em que lecionei no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira. Foi com grande satisfação que participei no projeto de formação escolar e humana dos jovens que se encontravam aí reclusos.

(JV) Que artista ou artistas o inspiraram mais ao longo da vida?
(PJAM) Com artistas referes-te a artistas plásticos correto?
(JV) Sim, artistas plásticos.
(PJAM) Começo por referir Piero de la Francesca que no pré renascimento, foi um artista extremamente importante, pela forma como estudou e sistematizou a perspetiva e a estrutura de uma pintura; como representou as pessoas, não tão animadas ou angelicais, mas como pessoas que eram. Refiro também Matisse e a extraordinária importância da sua obra para a arte do sec XX. Podemos considerar que foi um dos maiores influenciadores artísticos na sua época. Mais recentemente, posso falar de Jasper Johns, artista americano ainda vivo que tem um trabalho singular do qual sou um admirador e incondicional seguidor.  Depois temos os artistas portugueses. Considero Amadeo de Souza-Cardoso um dos melhores e maiores artistas da arte moderna portuguesa e internacional. Artur Bual e Júlio Resende são também duas referências especiais. Tive também o prazer de conhecer, enquanto professores nas Belas Artes do Porto, vários artistas. Um deles foi Álvaro Lapa por cuja obra tenho uma admiração particular. Quero também deixar aqui uma referência a António Charrua, artista pouco conhecido, mas que tem uma obra artística muito importante e que também me influenciou.

(AS) O professor era bom aluno em geral ou apenas nas disciplinas mais focadas em artes?
(PJAM) Sabem que a vida tem muitas etapas. Fui um bom aluno até ao nono ano. Depois quando entrei no secundário as coisas já foram diferentes, porque eu queria uma área, mas frequentei outra diferente. Andei muito indeciso até que resolvi mudar de área.

(JV) Em que faculdade é que se formou?
(PJAM) Na Faculdade de Belas Artes do Porto.
(JV) E ficava longe da sua casa?
(PJAM) Eu sou natural de Barcelos. Vim para o Porto estudar e trabalhar para me sustentar e pagar o curso. Claro que não foi fácil, mas quando somos novos não pensamos nisso e acabamos por ter força para tudo. A vontade acaba por ser uma motivação muito grande.

(AS) Foi difícil tirar o curso?
(PJAM) Não posso dizer que foi difícil. A questão de ser difícil é que eu não estava apenas focado nos estudos, tinha que trabalhar para ter forma de estar aqui a viver no Porto e ao mesmo tempo pagar o curso. Eu trabalhava durante o dia e depois frequentava a faculdade entre as 18 e as 24 horas. Felizmente, na turma da noite, havia um grande espírito de camaradagem e interajuda entre os alunos.
 
(JV) Na altura de escolher o curso, os seus pais apoiaram-no ou algum familiar achou a escolha errada considerando o facto de a Arte ser inútil?
(PJAM) Como já disse antes, não foi muito bem aceite. No secundário, deixei-me influenciar pelo que me aconselhavam, mas depois tive que mudar completamente.

(AS) Alguma vez pensou em desistir do curso de Artes?
(PJAM) Não, isso não. Tenho guardados os cadernos da primária onde se faziam as redações e as cópias. Estão cheios de desenhos, com muita cor. Artes já era algo que me fascinava, sem que eu na altura pensasse nisso.

(JV) Há alguma coisa que não tenhamos perguntado que ache relevante dizer?
(PJAM) Não, de momento não. Apenas quero dizer que foi um prazer fazer esta entrevista convosco.
(JV) Muito obrigado pela oportunidade. A entrevista será publicada no blogartes durante a Semana das Artes.

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