sexta-feira, 19 de junho de 2020

A entrevista da professora Cristina Magalhães



Duas alunas do 10.º E, a Sílvia Silva e a Sofia Santos, entrevistaram a professora Cristina Magalhães. Aqui fica o resultado:

Em que momento da sua vida percebeu que queria ser professora de Artes Visuais? 
“Foi naquilo a que vocês chamam de 10.º ano, portanto no ano em que vocês estão. Na minha altura chamava-se 6.º ano do liceu. Queria ter seguido a via das artes, mas não deixaram e obrigaram-me a ir para a via de "ciências". Foi nessa altura que decidi que queria seguir artes, mas fiz a vontade à família. Fiz algumas disciplinas do curso de ciências.”

Porque escolheu ser professora de Artes?
“O primeiro trabalho que tive foi ser professora. Estava na Escola de Belas Artes, no curso de Design de Comunicação,  no terceiro ano e, antes de acabar o ano, o meu pai faleceu. Então tive de ir trabalhar e a primeira coisa que me ocorreu foi ser professora. Lembro-me que na altura fui trabalhar para a Escola Secundária de Paredes, dei aulas e gostei muito da experiência. Desde aí fiz a profissionalização em serviço, logo no ano seguinte. Gosto muito de trabalhar com os alunos e gosto muito dos trabalhos deles. Penso que foi nessa altura que decidi, fiz essa escolha e depois ficou para sempre. Ficou para a minha vida.”

O que a motivou a seguir o curso de Artes?
“Tinha, na família, uma pessoa que tinha tirado o curso de Escultura e eu tinha contacto com algumas coisas das Belas Artes. Na altura, para se tirar um curso superior de artes era só nas Belas Artes, não era possível ser noutra instituição. O 25 de abril deu-se na altura em que eu estava no 9.º ano e a escola de Belas Artes era de tal maneira de mentalidade tão aberta, era um progresso tão grande relativamente àquilo a que eu estava habituada, que parecia um sonho eu conseguir ir para lá. De facto foi por via da minha cunhada, que tem o curso de escultura, que eu me apercebi de algumas coisas, que visitei a escola, que gostei do que vi, que me apaixonei e que quis ir para lá.”

Qual é a sua formação académica base? Pintura? Escultura? Design? Arquitetura? Outra?
“Nas Belas Artes tinham cursos tradicionais de Pintura e Escultura. A faculdade de Arquitetura funcionava no edifício, mas não fazia parte propriamente dos cursos de Belas Artes. Um ano antes de eu entrar nas Belas Artes, abriu um curso novo, o curso de Design de Comunicação e foi esse curso que escolhi. Tenho a licenciatura em Design de Comunicação da Escola Superior de Belas Artes do Porto.”

Para além de professora faz alguma coisa na área de artes?
“Faço. Agora já nem tanto, mas durante muitos anos trabalhei na área do design, produção de cartazes, desdobráveis, folhetos, páginas web, organização de exposições... Tudo aquilo que tem a ver com o design de comunicação.  Neste momento, deixei um bocadinho de fazer esse tipo de trabalhos e dedico-me à escola e aos meus alunos. A área do design de comunicação é uma área muito stressante, porque tudo tem que estar pronto em determinada altura, as pessoas querem um cartaz e querem para já. É muito stressante trabalhar nesta área! Durante muito tempo trabalhei e gostei muito. Depois dediquei-me mais ao ensino, mas tenho muitas coisas feitas, sim.”

Os seus pais apoiaram-na na escolha do curso de artes?
“Não, foi uma guerra, uma guerra muito grande. Obrigaram-me a ir para a área de ciências. Estive dois anos nessa área de ciências. Fiz algumas disciplinas, reprovei a uma ou outra e eles convenceram-se que eu queria seguir artes. Portanto, tive que fazer as disciplinas necessárias para ter acesso ao ensino superior nessa área. Tive de estudar por mim, com o apoio de algumas pessoas, e fazer exame para ter ingresso nas Belas Artes. Por exemplo, na altura foi o meu irmão que me ensinou geometria descritiva. Fiz o exame, sem nunca ter ido a uma aula de geometria descritiva. Estudei história também, fiz exame sem nunca ter ir ido a uma aula de história. Foi muito difícil, porque a mentalidade das pessoas era outra, os meus pais eram pessoas muito mais velhas do que eu e achavam que a escola de Belas Artes tinha um espírito demasiado livre para aquilo que eles consideravam ser bom para mim. Portanto, tive que lutar muito para conseguir entrar lá.”

Qual é a sensação que sente à evolução do aluno?
"Vocês, quando chegam, seja no 10.° ano ou 7.°ano, chegam em fases diferentes de forma de trabalhar, de ver as coisas, de desenhar... E o que mais me dá prazer, satisfação e felicidade é conseguir que o aluno ou aluna, dentro daquilo que gosta, sem lhe mudar a maneira própria de ver e a maneira pessoal de desenhar, conseguir que desenhe bem, que faça trabalhos criativos e, dentro da sua aspiração, daquilo que acha que é a sua área, seja capaz de brilhar e de fazer o melhor possível. Por causa disso sou muito exigente, digo muitas coisas, quero que experimentem muitas coisas, porque eu acho que todos nós somos capazes de fazer o que quisermos, desde que trabalhemos para isso. Portanto, ver um aluno que chegou até mim em determinado estado, vê-lo subir, brilhar, fazer o melhor que lhe é possível e chegar ao final do ciclo com trabalhos extraordinários, como já tem acontecido, é uma alegria imensa."

Qual a técnica que a professora gosta mais de usar?
"Design de Comunicação, hoje em dia, não se faz sem o computador. Quando eu fiz o curso não havia computadores, era tudo feito à mão. A partir do momento que apareceram os computadores tudo se faz no computador. Tudo o que produzo, ainda que possa ter uma base de desenho à mão, depois é tudo trabalhado em termos digitais. Eu diria que gosto muito de trabalho digital, trabalhar com o computador, com a imagem, desenhos digitais, essa é a minha área, aliás vocês sabem que faço o blogartes e tenho muita tendência a fazer este tipo de trabalhos, porque é a minha formação base."

O que é mais difícil na profissão de professora de artes?
"Eu diria na profissão de professora. Eu acho que o mais difícil são as relações humanas, porque todos os alunos são diferentes, cada pessoa tem a sua maneira de estar, de falar, de sentir. Tenho que me aperceber o que vocês podem gostar, o que é que eu vos posso dizer, o que vos pode desagradar. Posso dizer, sem querer, algo que vos possa magoar e isso estraga de imediato a relação. O mais difícil é manter uma relação: por um lado ser exigente e, por outro, ser uma pessoa amiga. Existem pessoas muito resistentes, que dificilmente se mostram, e nesta área do desenho é preciso vocês mostrarem-se. Gosto de todos os meus alunos e quero manter uma relação de respeito e vice-versa, e ao mesmo tempo ser exigente, levar-vos a trabalhar e a fazer coisas muito interessantes e bonitas na vossa vida de estudantes."

Quais são os pontos positivos no curso geral de artes visuais?
"Eu acho que é um curso muito bonito, porque as disciplinas que vocês têm são disciplinas interessantes. O desenho é uma disciplina muito bonita e que vos permite, na escola, fazer coisas que têm muita visibilidade, quer à vossa pessoa, quer aos vossos modos de estar, de fazer e de desenhar, com as exposições que fazem frequentemente quer por via do blogartes quer por via presencial. É um curso que vos dá ferramentas para vocês exporem os vossos trabalhos e as vossas ideias, porque expondo os nossos trabalhos nós estamos a comunicar com os outros por termos coisas a dizer que nos preocupam, e nesse sentido eu acho que é um curso muito interessante. Por outro lado, as aulas são com um carácter muito prático, muito afável e de muita comunicação."

Já fez alguma exposição com os trabalhos da professora?
"Já, já fiz mais do que uma exposição. É uma pergunta curiosa, houve uma altura em que eu achei que devia mostrar aquilo que fazia e que gosto de fazer e portanto fazia exposições minhas com trabalhos que fazia."

A professora acredita que para aprender a desenhar e a pintar o aluno tem de ter um dom natural?
"Não. Nem eu, nem muita outra gente! Tem gente que desenha naturalmente, sem dificuldade nenhuma, sem esforço e o desenho sai, mas nem sempre são os artistas do futuro ou que têm mais possibilidade de virem a ser artistas no verdadeiro sentido da palavra. Eu acho que as pessoas têm de trabalhar... Aquilo que ensino aos meus alunos é que têm de trabalhar, e trabalhando toda a gente consegue chegar onde quer. Quem tem muita facilidade em desenhar, muitas vezes também tem muitos vícios de desenho, coisas que faz naturalmente e que faz mal, que nem se apercebe e por isso tem mais dificuldade em começar a fazer corretamente. Portanto eu não acho que é preciso um dom para as pessoas seguirem  artes, eu penso que é preciso estar aberto a aprender, ver com olhos de ver e, sobretudo, fazer muitos exercícios, exercitar sempre o desenho."

A professora quer acrescentar alguma coisa a esta entrevista?
"Eu quero agradecer vos a vossa entrevista, a vossa simpatia, o alinharem  neste tipo de trabalhos que estão a fazer irem aprendendo a ser adultos de uma forma que é simpática. Gostei muito de vos dar esta entrevista. Acerca de mim não quero dizer mais nada pessoal, antes quero dizer a vocês que sejam felizes, desejo que tenham um futuro brilhante pela vossa frente, têm todas as possibilidades para serem pessoas grandes nesta área. Desejo-vos muitas felicidades! E era só isto que queria dizer, para além de um beijinho, vocês já sabem que acabo sempre com um beijinho..."

6 comentários:

  1. Muito riquinha esta entrevista. É a professora Cristina!

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  2. Uma profissional de mão cheia! Põe tudo e todos a correr....Contigo até os coxos correm e saltam !!
    No final da corrida,ficamos todos contentes com o desafio.
    Bem hajas!

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  3. Hummmm... sou tua fã Cristina!!!
    Obrigada pela oportunidade de aprender mais, e sempre mais!
    Obrigada por, mesmo coxa (-salvo seja!), me pores a correr sem nunca me deixares desistir!
    Quero muitos mais anos a aprender, contigo! e com eles! Somos um grupo maravilhoso!
    Xi coração e uma beijoquita
    Parabéns Cristina!!!

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  4. Muito bem Cristina, sempre a conhecer-te melhor!!!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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