Ana Felizardo, Precious yet shameful, 2023, guache e acrílico s/ tela
Neste trabalho, o último trabalho livre do ano, tinha como intenção criar algo que fosse importante para mim no que se refere ao seu tema e representante das aprendizagens adquiridas neste ano, simultaneamente. Assim, decidi pintar uma preciosa amiga que conheci virtualmente, a Josephine.
Não fiz rascunhos se não digitais (dos quais a pintura final se distanciou) da figura que pretendia pintar e comecei pelo fundo, como de costume, com tinta acrílica.
Pintei primeiramente as escadas onde desejava que a figura se encontrasse, sentada, com tons escuros e claros de castanho.
Por todo o fundo, as cores predominantes são os variados tons de laranja para a luz que irradia do interior da casa, castanho para o exterior, cinzento para o edifício, tons escuros de azul para a representação da noite e ainda alguns tons de verde na árvore e pequenas plantas. Seguidamente, procurei preocupar-me com a perspetiva do fundo, algo que aprendi neste ano letivo, utilizando tons escuros nas áreas mais próximas e tons claros nas mais distantes.
Com receio de que a minha preocupação com a aparência do fundo fosse maior do que com a figura humana e o seu rosto, decidi pausar a pintura do fundo para começar a trabalhar no retrato da Josephine, a guache. Pintei, inicialmente, uma base branca no formato necessário e comecei por trabalhar no rosto, o elemento da pintura que mais foi modificado durante o seu processo. Comecei por pintar o formato do seu rosto e o seu tom de pele tendo em mente que ela se encontrava num ambiente noturno. Dediquei-me para tentar encontrar proporcionalidade entre todas as suas características faciais.
Após terminar o seu rosto e tom de pele, retornei a trabalhar no fundo, um processo lento e demorado, e apenas após o terminar voltei a trabalhar nos detalhes da figura, nomeadamente no seu cabelo e roupa. O elemento final adicionado à tela foi o gato da Josephine, o Snowcone, também a guache, outro sujeito sofredor, também, de várias modificações.
O que me motivou a pintar a Josie sentada nas escadas de uma casa com o seu gato foi, não unicamente, uma conversa que tivemos, já há algum tempo, onde comentamos sobre a ideia de num futuro distante vivermos juntas numa zona rural com uma quantidade exagerada de gatos. Considero isto irónico tendo em conta que, em 3 anos de amizade virtual, nunca nos encontramos pessoalmente, um fator que me trouxe dificuldades no seu retrato. Mais, a admiração que sinto por ela foi a razão principal de dedicar-lhe um retrato. A sua pessoa traz-me um conforto inimaginável devido às similaridades presentes entre as nossas personalidades. As conversas que tenho com ela emitem uma sensação de segurança e estabilidade, pois nem a distância existente entre nós retira a proximidade da nossa amizade. Desta maneira, pretendia enviar-lhe esta tela, assim sendo o nosso primeiro contacto físico, embora indireto. Não obstante, estando consciente de que falhei miseravelmente no retrato de toda a beleza que vejo nela, enviar-lhe o trabalho traz-me grande desgosto e vergonha.
Posso, desta forma, afirmar que este é o trabalho de que menos gostei, ou, mais concretamente, que mais odeio. Simplesmente pensar neste trabalho preenche-me de insatisfação e ódio. Logo, espero um dia poder me esquecer que alguma vez o fiz.
Luísa Felizardo
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