segunda-feira, 15 de junho de 2020

A ouvir o professor Nuno Marinho...

Um trabalho das alunas Cátia Matos e Joana Alves, 10.º E, Desenho A


Olá, professor Nuno Marinho. 
Somos a Joana Alves e a Cátia Matos, alunas do 10.º E, da Escola Secundária de Águas Santas e estamos a entrevistá-lo no âmbito de um trabalho de pesquisa para a disciplina de Desenho A e, também, porque temos curiosidade de o conhecer um pouco melhor. 
É o nosso Diretor de Turma e leciona-nos a disciplina de Geometria Descritiva A. 
Antes de mais, agradecemos a disponibilidade para nos receber. Muito obrigada.


Joana Alves e Cátia Matos (JAeCM) Em que momento da sua vida percebeu que queria ser professor de Artes Visuais?
Prof. Nuno Marinho (PNM) Eu não escolhi ser professor de artes visuais. Eu percebi, desde muito miúdo, que queria estar relacionado com as artes plásticas e visuais. Sempre gostei muito da disciplina de educação visual, sempre gostei de desenhar e de pintar, mas foi no 9.º ano, em que eu fiz uma pré opção por uma área chamada Arte e Design, que tive uma professora, fantástica, a professora Elvira Leite, que me orientou, definitivamente, para esta área. Depois, no 10.º ano fui para a Escola Artística Soares dos Reis, onde fiz o curso de Artes e Técnicas Gráficas.

JAeCM Porque é que escolheu seguir uma carreira de professor ligada às Artes Visuais?
PNM Depois da minha experiência, de que gostei imenso no secundário, segui o ensino superior as Artes Plásticas e tirei o curso de Escultura. Depois, foi natural: precisei de trabalhar, de ganhar dinheiro e uma das opções foi dar aulas. Eu já tinha experimentado, antes de entrar para a faculdade e gostei bastante, foi uma opção natural a de ir para o ensino.

JAeCM O que o motivou a seguir um curso de Artes?
PNM Desde sempre foi a minha área preferida, apesar de que também gostava bastante da área das humanidades principalmente História, Geografia, Português, etc. Mas nunca tive dúvida nenhuma de que queria fazer mesmo esse curso de artes plásticas, no meu caso, de escultura.

JAeCM Qual é a sua formação académica? Pintura? Escultura? Design? Arquitetura? Outra?
PNM Eu tenho o Curso Superior de Artes Plásticas em Escultura, que tirei na Faculdade de Belas-Artes do Porto.

JAeCM Na altura de escolher o curso, os pais apoiaram-no ou algum familiar considerou a escolha errada por achar a Arte inútil?
PNM Não me deram aquele grande apoio porque, sabem, há sempre esta ideia de que as artes não servem para nada, mas não me proibiram e foram apoiando as minhas opções. De qualquer forma, quando entrei para as Belas-Artes já era uma pessoa bastante independente: já tinha muitas experiências profissionais. Eu, durante o ensino superior, estive sempre a estudar e a trabalhar ao mesmo tempo, portanto, nunca estive muito dependente da opinião dos meus pais.
  
JAeCM Sempre quis ser professor de Artes Visuais ou teve outros planos para a sua vida?
PNM Quando entrei para a Faculdade de Belas-Artes, o meu objetivo era, verdadeiramente, ser artista, viver da arte, mas depois não se proporcionou bem dessa maneira. Mas não me arrependo nada, porque gosto bastante de ser professor.

JAeCM Qual é a sensação de ver a evolução de um aluno em Educação Visual, Desenho, Geometria Descritiva, Oficina de Artes ou noutra disciplina ligada às Artes Visuais?
PNM A sensação de ver a evolução dos alunos é fantástica! Vocês sabem que ser professor e estar a lidar com os alunos no dia a dia é sempre um bocadinho complicado, porque nem sempre os alunos correspondem da melhor maneira e isso é sempre uma angústia para nós, professores, porque sabemos que os alunos, às vezes, fazem algumas opções que não são as melhores, porque não se estão a dedicar ou porque não estão a fazer a coisa da maneira mais correta e isso cria-nos alguma angústia. Quando chegamos ao fim de um percurso e vemos que os alunos evoluíram, que aprenderam, que estão mais ricos, é uma sensação maravilhosa, sem dúvida. Quando vos vemos crescer, é uma sensação muito boa!

JAeCM Que artista ou artistas o inspiraram mais ao longo da sua vida?
PNM Gosto muito, por exemplo, de um escultor que se chama Rodin, gosto de outro que se chama Henry Moore. Depois, gosto daqueles pintores de que todos já ouviram falar, por exemplo, o Picasso, o Miró… gosto muito do Egon Schiele e de muitos outros.

JAeCM Qual a técnica de trabalho que gosta mais de usar para se expressar?
PNM A minha paixão… Na altura em que tirei o meu curso de escultura ele estava dividido em duas fases, a primeira, nos três primeiros anos, que era mais generalista, e depois, no quarto e quinto anos do curso, tínhamos de nos especializar em duas tecnologias. Eu escolhi a tecnologia da pedra e a dos metais. Gostei bastante de trabalhar em pedra, mas a minha maior paixão foi o trabalho em metal, fazer escultura em metal, em ferro, principalmente. E continua a ser a minha tecnologia preferida, apesar de agora não ter condições para continuar a trabalhar nela.

JAeCM Qual foi o museu ou exposição de Arte que mais gostou de visitar?
PNM Gostei de muitas mas, talvez, aquela obra de arte que mais me impressionou, que me tirou mesmo o fôlego quando a vi, foi a Guernica de Picasso, que está no museu Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid.

JAeCM Qual o trabalho que realizou de que mais se orgulha? 
PNM A minha proposta de trabalho, desde o curso, foi a de fazer uma junção de conceitos. Eu ligava, muitas vezes, os móveis não utilizáveis, isto é, eu construía cadeiras ou mesas ou outras peças de móveis e inseria-lhes peças metálicas a representarem flores (como, a minha preferida, o jarro), de forma a obter peças insólitas. Fiz, por exemplo, uma escultura em que simulei uma mesa com uma toalha rendada, tudo feito em ferro, com essas tais flores metálicas, e gostei, especialmente, desse trabalho. Entretanto, participei numa exposição com essa peça e ganhei um prémio de aquisição, isto é, o organismo que promoveu a exposição, a Associação Nacional de Jovens Empresários, atribuiu-me esse prémio e comprou-me obra. É uma das que eu mais gosto.

JAeCM Costuma desenhar ou pintar com regularidade?
PNM Sim, mas só para mim, não costumo fazê-lo para expor.

JAeCM Quanto tempo demorou a desenvolver técnicas de desenho? E quais as dificuldades que teve?
PNM As técnicas nunca se desenvolvem definitivamente, podemos sempre desenvolver mais alguma coisa. Desde que comecei a desenhar, em pequenino, até agora, vou sempre desenvolvendo técnicas e vou sempre melhorando ou, se calhar, não melhorando, mas modificando, experimentando coisas diferentes, etc. Aquela altura em que mais fiz desenvolver essas características foi na altura em que estava no ensino secundário, como vocês estão, no curso de artes da escola Soares dos Reis e, depois, durante o curso de Belas-Artes. Nós tínhamos muitas horas de desenho: tínhamos uma cadeira em que explorávamos desenhos diversos e outra que era, exclusivamente, para o desenho de figura humana, portanto, ao longo da semana, nessas duas cadeiras, tínhamos uma carga horária enorme e desenhávamos e experimentávamos imenso. Aprendi muito com os professores, mas aprendi muitas coisas na partilha com os meus colegas. Portanto, sem dúvida, que foi no secundário e no superior que desenvolvi e aprendi muitas coisas.

JAeCM Entre todas as disciplinas que estão ligadas a Artes Visuais, qual gosta mais de ensinar? E porquê?
PNM Na verdade eu gosto muito de todas! Já tive experiência em várias delas. Neste momento, estou a dar Geometria Descritiva, que é uma disciplina de que eu gosto, mas que é uma disciplina um bocadinho mais técnica, portanto, menos criativa. Por isso, acho que gosto mais de Desenho. Na disciplina de Desenho conseguimos trabalhar mais a criatividade e isso é mais engraçado. Também já dei aulas de História da Cultura e das Artes e, como sou um apaixonado pela história e pela arte, gostei imenso dessa experiência.

JAeCM Qual o impacto do desenho na vida do professor?
PNM Eu nunca fiz do desenho uma forma de me exprimir para os outros. Participei em exposições de diversas áreas, mas nunca participei com desenhos, portanto, o desenho, para mim, é uma expressão muito mais íntima, desenho para mim próprio e exprimo as minhas coisas para eu próprio usufruir e fruir. Mas o desenho acaba por ser a base de todas as outras artes, portanto é, talvez, a forma de expressão com mais impacto na minha vida.

JAeCM Quando começou a desenhar teve bons resultados logo no início ou foi preciso muito treino?
PNM Acho que há pessoas que até podem ter alguma facilidade e a coisa não sair muito mal, ao princípio. Mas os bons resultados, no desenho, estão muito relacionados com a prática, com a experimentação, com muitas horas de trabalho, muitos desenhos para deitar ao lixo ou de que não gostamos, até chegarmos a algumas coisas que nos satisfazem. Foi isso que aconteceu comigo.

JAeCM Se quiser adicionar algo mais que ache relevante para a entrevista, pode dizer?
PNM Posso dizer que o meu percurso artístico não foi só na escultura. Eu fui fazendo muitas outras coisas ao longo da minha vida, nomeadamente, participei em várias exposições de escultura, cerâmica, trabalho em vidro, Land Art… E tive, também, um momento na minha vida, aproximadamente de dez anos, em que estive envolvido numa associação cultural e artística e, integrado nessa associação, consegui participar em muitos intercâmbios culturais internacionais, o que me desenvolveu imenso. O trabalho e a partilha com artistas e outras pessoas de outras nacionalidades, de outras culturas, foram extremamente enriquecedores ao nível artístico e pessoal. É esse o testemunho que eu quero deixar, principalmente aos alunos, aos mais jovens: vocês devem sempre procurar imensos caminhos, imensas formas de ver o mundo e de ver a arte, não ficarem limitados às vossas aulas e ao vosso mundo mais restrito, é fundamental que ganhem asas. Vão à procura do vosso destino, de novas coisas e novos mundos, porque o mundo é demasiado grande para vocês ficarem muito fechados numa bolha pequenina.

JAeCM Muito obrigada por nos ter respondido a todas estas questões. Gostamos muito de o conhecer melhor. A entrevista vai ser publicada no blogartes, durante a Semana das Artes. 
PNM OBRIGADA


3 comentários:

  1. Que excelente descoberta. Já admirava o Nuno mas com esta partilha de vida ainda fico a admirar mais quer enquanto professor quer como pessoa.

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  2. Ora o professor Nuno também pinta, mas não partilha... Acho mal!
    E o teatro? O professor escondeu umas coisitas. Parabéns Nuno, admiro-te! Beijinhos.

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  3. Adorei! Como direi, temos terminologias muito comuns...formas de pensar cruzadas..."O mundo é demasiado grande para ficarem fechados numa bolha pequenina."...frase sábia, mestre de um belo caminho.
    Parabéns Nuno!
    E entre estas qualidades todas... quando não no ouvem, cantemos! ;) ;) ;)

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