sexta-feira, 5 de julho de 2024

Trabalho Livre de Ana Luísa Felizardo, 11.ºE

Ana Felizardo, Gift (in german), acrílico e guache s/ tela, 2024



Memória descritiva do trabalho livre do 3º período

    "Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Desenho A da turma 11ºE, do ano letivo de 2023/2024, lecionado por Ana Cristina Magalhães, na escola secundária de Águas Santas, entre os dias 15 e 23 de maio de 2024.
    Aproximando-se o final de outro ano letivo no curso de Artes Visuais, deparei-me com a obrigação de representar, da melhor forma, tudo o que consolidei e melhorei neste ano, e também como amadureci artística e pessoalmente. Com recomendação da professora, decidi trabalhar num autorretrato pois, afinal de contas, o autoconhecimento é, para mim, o objetivo supremo de frequentar o curso de Artes Visuais e talvez continuá-lo no futuro próximo.
    Como todos os meus outros trabalhos, a tela passou por diversas modificações para chegar ao resultado final. Apenas realizei rascunhos digitais do meu rosto para que pudesse ter melhor noção das suas proporções. Na fase inicial preparei a minha tela com cores de base e uma ideia geral da forma que pretendia pintar.
    O meu objetivo para esta pintura era criar algo espontâneo, talvez um pouco impressionista (na sua essência temática mais do que técnica). Portanto, não planeei com rigor o que ia pintar desde o início. Apenas deixei que o meu subconsciente trabalhasse. No começo, este novo método deixou-me algo estagnada, mas com o avançar do trabalho, as ideias foram se desenrolando por si próprias.
    Visto que visionava que o meu rosto ficasse retratado assim como é na realidade, foi, então, o elemento em que mais trabalhei e detalhei. Para chegar a uma mera semelhança do meu rosto, foram necessárias muitas alterações das formas gerais iniciais que tinha feito, e também do tom de pele. Como quis pintar-me numa espécie de paraíso e mundo selvagem, tive em conta a alteração da cor que a luz do sol pode provocar no tom de pele. Então, mantive-me com um tom quase dourado para dar a impressão de um bronze do pôr do sol.
    Após ter sucesso a dominar a forma geral do meu rosto, com intuito de conseguir terminar o meu trabalho a tempo, parti para a forma geral de outros elementos da pintura como o corpo e o vestuário, e também o que podia servir de fundo. Como cor, decidi utilizar um azul ultramarino que considerei contrastar os sobretons alaranjados da minha pele. Dado que, neste ano letivo, trabalhamos a pintura do acrílico sobre tela, apercebi-me possuir menos dificuldades para cobrir uma cor com outra, ou para realizar misturas únicas e espontâneas.
    Contudo, após chegar a esta fase do trabalho, onde o meu autorretrato estava quase totalmente completo, vi-me bloqueada para avançar. Por um lado, não gostei de ver os meus defeitos numa grande tela mas, por outro, senti negação quanto aos mesmos, perguntando-me a mim mesma se teria pintado de maneira pouco rigorosa. Esta situação deixou-me confusa, pois, desde sempre, tenho dificuldades em ver-me como realmente sou, e autorretratos são, muitas vezes, responsáveis por acionar angustiantes episódios de disformia facial.
    Ainda assim, continuei a pintar o melhor que podia, deixando para terminar o meu rosto quando a minha auto perceção se encontrasse mais estável e credível, ou seja, como último passo. Aperfeiçoei, então, os cabelos e os detalhes do vestido, e comecei a ponderar que elementos podia adicionar como fundo. Como já mencionei anteriormente que, como fundo, desejava representar um paraíso tropical, pintei então flores, folhas e um pequeno guepardo. A este ponto, começo a associar a minha identidade artística a felinos selvagens, pois além de serem animais dos quais gosto muito, realmente apreciei pintar um deles no último trabalho livre.
    Aproveitando a oportunidade de que, com este desenvolvimento no parágrafo anterior já ter introduzido o tópico de identidade artística, considero já meio caminho andado para explicar as minhas motivações por trás do trabalho e do seu tema. Relembrando, na introdução da memória descritiva, referi o meu desejo de retratar uma maior maturidade artística e pessoal. Por isto, estão responsáveis vários fatores provindos de acontecimentos deste ano letivo. O revivalismo de certas situações traumáticas e a desconsideração das mesmas por pessoas a quem acreditava serem chegadas abriu-me novas perspetivas sobre a minha identidade, o que me define a mim como pessoa. É importante mencionar, também, que a escolha de um autorretrato foi significantemente provocada por um desejo de criar maior autovalorização. Em termos artísticos, estes mesmos eventos na minha vida delinearam com mais clareza aquilo de que gosto e não gosto, e isto possibilitou-me desenvolver uma personalidade mais única quanto às minhas pinturas e trabalhos, ora pelo pensamento por trás das mesmas, ora até mesmo pelas pinceladas e paleta cromática.
    Nomeei este trabalho com a palavra Gift, vinda do alemão, pois considero a ironia na sua tradução muito interessante. Gift em alemão significa veneno, algo tóxico, e cativa-me o facto da mesma palavra significar presente, prenda, em inglês.
    A realização deste trabalho trouxe-me emoções semelhantes a todos os outros, mas uma característica do processo foi, claramente, diferente: aceitei os defeitos que via, sendo estes na pintura ou na realidade, e simplesmente segui em frente. Não é um trabalho de que me orgulho, de todo, mas penso que estarei a evoluir artisticamente pois não mais rejeitei todos os defeitos que antes eram tão perturbadores."

Ana Felizardo, 11.ºE

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