Sou mulher! Sou mulher,
porque não tenho nas minhas células o cromossoma Y. Este pequenino cromossoma
(é mesmo pequeno) é segundo Steve Jones, “uma metáfora microscópica dos seus
portadores, pois trata-se do cromossoma mais decadente, redundante e parasítico
de todo o homem”, pois só possui cerca de 70 genes que codificam proteínas. Mas
é a falta deste cromossoma que verdadeiramente permite a existência de dois
sexos na nossa espécie, e basicamente de mulheres e homens. O dia Mundial da
Mulher lembra-nos todos os anos que em quase todo o Mundo, as mulheres estão
melhor que nunca, o que não significa que estão bem. Estes direitos que damos
por adquiridos devem-se a tantas mulheres que muito lutaram e sofreram. Mas se nos defrontarmos com os cerca de 4,5
milhões de mulheres em todo o mundo que são prisioneiras de comércio sexual, com
países como o Afeganistão e o Sudão em
que as mulheres praticamente não têm acesso à educação e são propriedade dos
maridos, com os cerca dos 195 países independentes que existem no mundo em que apenas
cerca de 17 são governados por mulheres, com as mulheres que detêm apenas cerca
de 20% dos lugares nos parlamentos a nível mundial (em Portugal, são cerca de
33,5%), com o facto de que na Europa, no universo das maiores companhias
empresariais as mulheres ocupam apenas 16% dos lugares de administração e em
Portugal esse valor desce para 7%, percebemos que ainda há um longo caminho a
percorrer e que afinal não estamos assim tão bem.
Mas felizmente sou mulher! Quis o
acaso que nascesse em Portugal, nos anos 60 do século passado, no seio de uma
família “iluminada”. No seio familiar onde cresci, o número de homens era
superior, e apesar de nem sempre as tarefas serem igualmente distribuídas (num
contexto de flexibilidade, será que haveria equidade na sua distribuição?),
nunca senti constrangimentos, impedimentos e sonhos não realizados pelo facto
de ser mulher. No local de trabalho também nunca senti discriminação por ser
mulher (no entanto, não deixa de ser caricato que a maior parte dos diretores
dos agrupamentos de escola sejam homens). Na família que criei, o que vos digo
é que ser mulher é muito bom!
Felizmente sou mulher! Nós, as
mulheres, somos biologicamente falando, o sexo forte e dominante – sabiam que o
tal cromossoma pequenino, cromossoma Y, atendendo à sua taxa de degradação desde
o seu aparecimento pode desaparecer completamente dentro de uns meros 10 milhões
de anos? Temos a capacidade única de permitir o desenvolvimento de um novo ser
durante 9 meses, mantendo-o a uma temperatura constante e adequada,
alimentando-o, dando-lhe oxigénio para respirar, e quando nasce continuamos a
fazê-lo. Somos versáteis, conseguindo dar resposta ao mesmo tempo a vários
estímulos e problemas. Temos uma sensibilidade única para o que nos rodeia.
Somos mulheres!
Felizmente sou mulher!
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