segunda-feira, 11 de abril de 2016

Entrevista a Alfredo Filipe Ferreira Ribeiro

Entrevista realizada por Daniela Silva, aluna do Curso de Artes Visuais, 10.º ano, no âmbito da disciplina de Desenho A


O meu entrevistado é o aluno Alfredo Filipe Ferreira Ribeiro que está no 12.º ano do Curso de Artes Visuais e tem 18 anos. Os trabalhos que têm sido expostos na escola chamaram-me à atenção para o seu talento e, por isso, escolhi-o para responder às minhas perguntas. Quero conhecer, antes de mais, a sua experiência enquanto aluno de um Curso de Artes Visuais. Pretendo saber da sua motivação para desenvolver trabalhos dentro e fora da escola. Quero desvendar as crenças, os significados, as ideias, as interpretações e os sentimentos no que o concerne ao tema Artes e, deste modo, abrir horizontes para todos os que quiserem seguir este caminho. E quero, claro, agradecer ao Alfredo Ribeiro por se ter disponibilizado a ser entrevistado.


Entrevistadora e entrevistado - Fotografia de Miriam Martins


O passado

Por que decidiste estudar Artes Visuais?

Era uma coisa que sempre quis fazer, e era o meu sonho... apesar de as pessoas dizerem que não tem saídas, acho que isso não influencia nada.

Alguém te influenciou para seguir este curso?

Não, até porque não conhecia ninguém que andasse em artes, por isso foi uma escolha só minha.

Foi difícil convencer a família?

Não, eles simplesmente queriam que eu fizesse algo que eu quisesse e gostasse.

Alfredo Ribeiro 
O presente

Qual a importância das artes na tua vida?
 
A Arte é uma forma de vivermos e levarmos a vida, porque nos afeta em tudo: a forma como vemos as coisas, os nossos sentimentos... Vai mudar o meu futuro e a minha profissão, vou fazer algo que vou gostar, que não vou estar a ser forçado a fazer. Enquanto que na maioria das profissões tu fazes uma coisa e acabas sempre por não gostar de algo, em Artes acho que não, acho que vais acabar sempre por fazer tudo com o maior gosto que tens.


Alfredo Filipe Ribeiro, Trama gráfica

Tens algum artista favorito? Por quê?

Tenho, tenho vários, mas... o Van Gogh, porque para além de ter sido fundador, por assim dizer, do Impressionismo, foge àquela coisa de retratar a realidade como ela é e vê a arte com a sua forma de ver.

Vincent van Gogh, Auto-retrato, 1889, óleo s/ tela
65 x 54 cm, Museu de Órsay, Paris

Consideras-te uma pessoa criativa?

Sim, acho que sim, porque a criatividade resulta da forma como nós decidimos juntar coisas. Acho que para seres criativo tens de misturar certas coisas, tens de pensar "quero fazer uma pessoa" e não podes simplesmente pensar em pessoas, tens de pensar noutros objetos, noutras paisagens, em coisas assim e misturar isso tudo e criar coisas diferentes. Acho que temos de mostrar coisas diferentes, que não existam.

Consegues encontrar  beleza em tudo o que te rodeia?

Não sei, acho que não. Acho que na maior parte das coisas talvez, mas há coisas em que é difícil encontrar beleza. No dadaísmo, por exemplo, em que há coisas que aquilo... Não mexem comigo, e não são bem "beleza", não têm grande estética.

Já passaste por períodos de "crise inventiva"? 

Não, acho que não, acho que ainda não tenho capacidade para ter isso.

Na tua opinião, o que faz de alguém um artista? Resume-se a um diploma?

Não, acho que não, porque há muito grandes artistas, autodidatas, que conseguem ter bastante sucesso e mesmo o Van Gogh, por exemplo, não tinha qualquer tipo de academismo, e consegue fundar certas correntes artísticas através da não educação artística, porque ele nunca foi educado a desenhar de uma certa forma e o facto de ter evoluído sozinho, de aprender a desenhar sozinho, fez com que ele conseguisse fazer aquele seu estilo, porque nunca foi influenciado por ninguém.


Vincent van Gogh, A Noite Estrelada, 1889, óleo s/ tela
73.7 x 92.1 cm, Museu de Arte Moderna, Nova York


Consideras que os alunos de um Curso de Artes Visuais têm uma forma de pensar diferente?

Sim, porque nós vimos para artes e somos muito mais liberais, por assim dizer. Não é que os outros não o sejam, mas, no geral, temos uma forma de ver das coisas mais alegre e tentamos procurar a arte na vida, no dia-a-dia... e os outros se calhar não.

Tens orgulho no trabalho que desenvolves?

Sim, acho que sim, porque aquilo que faço é por esforço próprio e por ajuda de alguns também, mas a maior parte por esforço próprio e acho que é um bom resultado, um bom trabalho.

 
Alfredo Filipe Ribeiro, Desenho

Alfredo Filipe Ribeiro, Desenho


Divulgas o teu trabalho?

Sim, através de um blog e vou partilhando certas coisas com amigos e assim, no Instagram...



O futuro

Tens novos projetos, individuais ou em conjunto, em mente? 

Acho que não, ainda não pensei nisso, não sei.

Tens alguma ideia do que queres fazer quando acabares o 12.º ano?

Sim, desejo ir para a faculdade, para Design de Comunicação, e depois ver o que vai acontecer. Talvez seguir mais para ilustração, não sei.

Quais são, na tua opinião, as maiores dificuldades de um estudante de artes quando acaba os estudos? E ao longo da sua vida?  

Mesmo em design é difícil de ter um emprego estável e assim. Nós somos designers e muitas vezes trabalhamos por nós e temos de ser nós à procura de empregos em vários sítios. Não é um trabalho estável numa empresa, temos de andar constantemente a trabalhar e a sermos autónomos, e isso é um bocado difícil. Se formos, por exemplo, para Belas Artes também é a mesma coisa... Se seguirmos pintura ou escultura, também é difícil de arranjar contratos.


 Alfredo Ribeiro na construção de um mural

Já imaginaste que profissão gostarias de ter?

Queria seguir Design de Comunicação, mas queria seguir mais uma carreira de ilustrador.

Tens um plano B  para o caso de não conseguires ter uma carreira estável na profissão que pretendias?

Não. (ironicamente) Ir para uma mercearia, vender brócolos, sim, uma mercearia vintage.

Achas que existe esperança para futuros artistas, ou os caminhos das Artes Visuais estão cada vez mais num processo de decadência?

Acho que se não formos nós a ter esperança neles, também quem é que vai ter, não é? Acho que há artistas que podem conseguir alguma coisa ainda, mesmo em termos de arte urbana e tal, ainda temos bastantes artistas internacionalmente conhecidos.

Qual seria o teu sonho de vida?

Não sei, acho que talvez ser reconhecido pela minha arte, bastava a nível nacional, já seria suficiente.

2 comentários:

  1. Que o sonho se torne realidade porque é merecido. Parabéns!

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  2. Filipe espero que nunca tenha que abdicar dos seus sonhos e que consiga viver do fruto do seu trabalho. Desejo as maiores felicidades académicas e pessoais para este nosso novo artista. Muitos parabéns! Bem haja! Ana César

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