segunda-feira, 23 de maio de 2016

Entrevista a André Lourenço

Entrevista realizada por Marisa Santos, aluna do Curso de Artes Visuais, 10.º ano, no âmbito da disciplina de Desenho A.

O meu entrevistado é o André Filipe Caldeira Lourenço que está no 12.º ano do Curso de Artes Visuais desta escola e tem 18 anos. Quero conhecer e dar a conhecer o ponto de vista que o André, enquanto aluno em fim de ciclo, tem sobre as artes em geral. Quero, sobretudo, conhecer e descobrir um pouco os seus interesses, as suas ideias e o que pretende do futuro.

Entrevistadora e entrevistado - Fotografia de Daniela Silva

Por que escolheste este curso?
Originalmente não escolhi artes, apesar de gostar de artes, música, desenho… Sempre adorei  artes, mas não escolhi. Optei por ciências e só estive lá durante o 1º período. Entretanto decidi mudar para artes porque não gostei do curso que tinha escolhido, não achei que fosse muito criativo e já estava a ficar um pouco desanimado.

André Lourenço na construção de um mural


Então quem influenciou essa escolha?
Os meus pais… O meu pai sempre me disse que devia escolher artes pois estava mais direcionado para esse curso. No entanto eu achei que, na altura, devia escolher ciências. E depois todo o meu passado, porque sempre gostei de coisas mais criativas e vi-me num curso que não era criativo. Agora, em artes, tenho o objetivo de exercer, no futuro, uma profissão criativa. Portanto preocupei-me com o futuro e pensei  ok., então eu quero estar num curso que me leve a fazer coisas criativas e no fundo, a razão da escolha,  foi o gosto per ser criativo.

André Lourenço, Trama gráfica


Qual a razão da escolha desta escola? Já cá estavas?
Frequentei o 5º e o 6º anos em Pedrouços. Estou cá estou desde o 7º ano. Sendo assim disse: já que ando cá há tantos anos, já que sei estas paredes todas de cor e salteado, então porque não? Por que não continuar nesta escola, que tem sido sempre uma escola espetacular e os professores também? E pronto, decidi ficar.


Tens algum artista que te inspira? 
Salvador Dali é o meu artista favorito. Até já o desenhei ali no mural. É dos artistas mais criativos que conheço. Ele inspirou-se nos sonhos dele e fez obras espetaculares que eu digo quem me dera ter feito isso, quem me dera ter sabido que ele ia fazer isto e voltar atrás e fazer antes dele. Ele simplesmente foi genial, e mesmo as técnicas de pintura que usava, desenhos vindos da imaginação mas que através dessas técnicas ficavam super realistas. Adoro o Salvador Dali por causa disso.

 
André Lourenço, Salvador Dali 


Qual o teu tipo de arte e que materiais preferes?
Já que falei do Salvador Dali, parte-se do princípio que eu adoro o surrealismo. Adoro o facto de se ir buscar ideias aos sonhos e passá-las ao papel. Mas nem sempre é fácil porque uma pessoa acorda de um sonho espetacular e depois, quando o quer pôr em prática, já nem se lembra… Gosto do surrealismo por juntar a vertente mais artística e criativa com técnicas mais realistas. Nem todos os artistas o souberam combinar… E é por isso que adoro o surrealismo.
Em termos de materiais, apesar de não utilizar muito por falta de tempo e (em sussurro) por ser caro, adoro as tintas de óleo, são espetaculares. Por exemplo, eu fiz uma tela pequena para experimentar e passado um mês passei lá o dedo e ainda era possível pintar. Portanto achei espetacular ainda poder modificar os detalhes que tinha lá feito.
Os materiais que mais costumo utilizar e gosto bastante são a tinta-da-china, a grafite pura para esboços mais rápidos e adoro desenhar no diário gráfico com a caneta de bico fino preta, que provavelmente é dos materiais que mais uso.

Salvador Dali, A persistência da memória, 1931
Óleo s/ tela, 24 x 33 cm
Museu de Arte Moderna, Nova York


 Museu Dali
Museu Dali, em Figueres


O que é a Arte para ti?
Ok, essa é uma complicada! (risos) Mas basicamente Arte, para mim, são todas as maneiras de uma pessoa exprimir os sentimentos e as emoções mas também, no fundo, uma denúncia à sociedade. É uma maneira de dizer Ok, vocês pensam assim nas coisas. Claro que não se aplica a todos os tipos de arte, muitos tipos de arte são mesmo para o gosto da sociedade. Por exemplo, o realismo está muito ligado ao que as pessoas gostam. As pessoas gostam de olhar para um quadro realista e dizer está muito bem feito, é um retrato, está muito bom, está super realista, portanto está espetacular. Mas se calhar, se formos ver um quadro não tão realista mas que tenha um significado, um maior significado, um quadro em que uma pessoa tenha de olhar e pensar mais, acaba por ser um quadro mais rico e, no fundo, vai um bocado contra a sociedade, pois toda a gente gosta de coisas que sejam fáceis de ser compreendidas. Então, para mim, a Arte é a junção da expressão de emoções mas também uma denúncia à sociedade para fazer as pessoas pensar, fazer as pessoas refletir um pouco.


Alguma vez tiveste dificuldade no teu processo criativo?
Sim, no início. No 10º ano foi muito difícil de me adaptar. Os materiais novos, como a tinta-da-china, os pastéis de óleo (ainda me estou a adaptar a esses)… e depois tínhamos vários trabalhos de casa por mês, cada um com um material diferente… Foi muito complicado. Muitos desenhos não saíram muito bem. Os primeiros foram uma desgraça. Muita gente duvidou do meu futuro em artes, foi um bocado uma desilusão. Mas depois, à medida que fui experimentando novos materiais, tudo melhorou e, a partir daí, tive poucas falhas no meu processo criativo.


André Lourenço, Desenho

A música tem alguma influência no teu trabalho?
Muito, muito, sem dúvida alguma. Qualquer coisa que esteja a fazer, estou a ouvir música. É muito difícil verem-me na escola sem os auscultadores nos ouvidos. E sempre que eu desenho, se não tiver música, uma série ou filme, eu não gosto de estar a desenhar e a pintar. Sem “nada” acho muito monótono e não consigo fazê-lo. E quanto à música, gosto de música complexa para que me dê a volta à cabeça enquanto estou a desenhar. Ajuda-me imenso no meu processo criativo, sem dúvida.

André Lourenço
Construção de cenário de teatro


Tens algum realizador favorito?
Tenho sim, tenho até dois. O Tim Burton, que tem filmes fenomenais. E lá está, o Tim Burton é um bocado surrealista, ele cria mundos sensacionais, histórias espetaculares tão animadas como com atores. E também adoro o Clint Eastwood e os filmes dele, principalmente o Gran Torino. São super dramáticos, mas são espetaculares e têm histórias comoventes. E também porque (aí já me afasto um bocadinho do surrealismo) são histórias mais próximas de cada um de nós, especialmente o Gran Torino, que podiam facilmente acontecer a qualquer um. São histórias que me inspiram porque, para além do desenho e tudo, adoraria fazer cinema. Isso é uma paixão mesmo.

   
Tim Burton e Clint Eastwood - Realizadores de cinema

Pretendes seguir estudos superiores?
Claro, eu até já ando a pensar... E depois, no final do ano e no início das férias, já vou estar numa correria para tratar de papéis, tudo... pois estou a pensar ir para  Faculdade de Belas Artes, no Porto, para Design de Comunicação. É onde eu quero estudar e futuramente, espero eu, ter algum sucesso nessa área.

Boa sorte, então!
Obrigado, obrigado!

Que profissão gostarias de ter?
Lá está, por acaso estive bastante dividido entre arquitetura e design de comunicação/design gráfico, mas tenho vindo a decidir pelo design de comunicação porque, na minha opinião, é muito mais criativo. Por exemplo, eu não me estou a ver, nos próximos tempos, só a desenhar prédios... Não! Eu quero algo mais, quero poder trabalhar com vídeo, com fotografia, com vários programas e mesmo desenhar para fazer ilustrações, publicidade.Tudo de forma criativa, sem estar sujeito àquele academismo. Arquitetura é  um curso muito formal, calmo, e pronto, onde se seguem sempre aquelas normas. Eu quero algo mais livre, algo que a ideia base comece mesmo por mim. E é basicamente por isso que escolheria o design de comunicação. Espero já não ter dúvidas em relação a isto porque já começa a ser um bocado tarde para decidir.


 
André Lourenço, Desenhos 


Como é que encaras o estado das artes em Portugal?
Podia estar melhor, já esteve pior mas também já esteve muito melhor lá para trás, na História. Mas podia estar bem pior. Nós temos agora muitos artistas de rua e até estamos numa altura em que é mais fácil divulgar trabalhos e toda a arte. Muitos artistas portugueses começam a expor os seus trabalhos e acho que isso tem contribuído bastante. Por exemplo, se formos à baixa vemos imensa arte e artistas a pintar no chão e a vender arte. E também os graffitis já não são vistos como vandalismo e muitos são encomendados por restaurantes (para as paredes) e por pessoas que querem por arte no quarto dos filhos Acho que a arte agora é muito mais bem vista do que há dez anos atrás, quando ainda não tinha tanto impacto. Agora está a ir por um bom caminho.

André Lourenço e Alfredo Ribeiro
Fotografia registada frente ao mural de que são autores

Gostarias de trabalhar no estrangeiro?
Sem dúvida, adoraria ir para Nova Iorque. É um local que me inspira e sendo a oferta de emprego boa, era uma ótima oportunidade se surgisse, porque Nova Iorque sempre foi o meu local de sonho.

Que conselhos darias a um jovem estudante de artes?
Basicamente não ficar frustrado, nunca! Porque primeiro vai haver sempre alguém a gostar do trabalho e nem todos os trabalhos têm de ser perfeitos. É preciso ter paciência, porque nunca se fazem bons trabalhos à pressa. É preciso aprender a gerir o tempo porque vão ter um exame, mas nos outros trabalhos nunca façam tudo à pressa. Tentem deixar lá o vosso estilo, especialmente marcar o vosso estilo, isso é importante. Eu acho que não marquei bem o meu estilo, mas hei-de conseguir... Mas realmente tentem marcar o vosso estilo porque é meio caminho andado para o sucesso e as pessoas reconhecem logo certos estilos. Pronto, é basicamente isso, trabalhem muito, quando tiver de ser em cima de pressão é, mas em casa trabalhem com calma, devagar. Vejam-no sempre de várias perspetivas, mas acima de tudo deixem a vossa marca. E claro, nunca desistam porque artes é um curso espetacular. Pode ser difícil, ao longo dos anos vocês vão notar a vossa evolução e não desistam mesmo de fazer as coisas bem feitas. Estejam sempre até à última a melhorar os trabalhos porque vale  sempre a pena e. no fundo, acreditem em vocês.

Obrigada pela entrevista.

1 comentário:

  1. Parabéns pelo trabalho que tem vindo a realizar e felicidades para o futuro designer.

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